Sentidos.
Lembro-me que doeu olhar nos seus olhos, olhar para a sua dor. Vi através dela. Senti-a. Soube exactamente onde lhe doía e doeu-me também. Aproximei-me, quis tirar tudo o que lhe doía, o que a invadia, que a paralisava, que lhe tirava o sono, e foi o que fiz. Ela sentia, sentia tudo tão intensamente que assustava, mas eu não fugi. Não me assusto facilmente, e não fugi daquilo que viria a ser a maior conquista da minha vida. Então fiquei. E ela ficou também. Não há nada melhor que tê-la! Tudo lhe doía, e ela ali parada, naquele sofá, imóvel, só os olhos mexiam, a muito custo, parecendo que só aguentavam por eu estar ali, de certa forma acho que a dor dela diminuía quando eu estava por perto, e eu fiquei. Os dias passaram, e nós passámos com eles, mas passámos juntos, já não era só os olhos que mexiam, agora também os seus dedos ganhavam vida e encontraram-na com os meus, e eu reencontrava a vida e o prazer de estar vivo ao poder viver com ela, então eu