Saudade.


Quem me dera ter ficado quando me pedias. Ter-me demorado mais. Ter-te escutado. Ter visto. Ter-te agarrado. Ter agarrado todas as oportunidades para dizer que te amava.
Quem me dera não desejar ter-te aqui. Quem me dera não sentir a tua falta. E a minha também. Era sinal de que estavas. E de que eu estava também. Contigo.
Quem me dera acordar com a tua voz. Quem me dera chatear-me com as inúmeras mensagens de preocupação. Se eu estava bem, a que horas chegava, se ia para casa naquele dia!
Quem me dera ter ido todas as vezes. Todos os dias. Todos os dias para casa.
Quem me dera ter desligado a ideia de que eu é que sabia. Eu sempre soube não foi? Até que não vi. Até que não me deixas-te ver. E eu não soube. Só depois. Só tarde demais. E aí fiquei.
Fiquei todas as vezes. Fiquei todos os dias. Fiquei mesmo quando não davas conta. 
Disse que te amava, quando ouvias. Quando não ouvias. Mas eu sei que de todas as vezes tu sentis-te.
Cuidei de ti dentro e fora dessas paredes. Iria cuidar de ti o resto da vida. 
O resto da vida contigo! Só pedia o resto da minha vida ao teu lado.
Sem receio de dizer o que sentia. Sem receio de te contar alguns segredos. E agora se os quisesses saber todos eu dizia-tos!
Quem me dera ter-te aqui hoje. Hoje que me sinto tão sozinha. Tão perdida dentro de mim. Hoje que sinto tanto a tua falta. Hoje que queria ir para casa e dormir com a certeza de que amanhã ainda lá estarias.
Hoje que todos os dias têm sido iguais aos de hoje. Hoje que eu queria que tivesse sido atrás no tempo. Queria que tivesse sido um ontem distante quando tudo ainda estava bem. Quando ainda tinha tudo e não sabia o que realmente era sentir que não tinha nada.
Deste-me tudo. Não me faltou nada. Até que me faltou o tempo. E agora falta-me a vontade. De querer. De fazer. De ser.
A vida continua, ela sempre continua não é? Mas agora continua sem ti.
Hoje. Amanhã. Outro e outro dia sem te ver. Sem te ouvir. Sem te ter.
A vida continua, e com o continuar da vida continua a vontade de te encontrar. De chegar o dia em que afinal é só um pesadelo. De que afinal eles estavam enganados. De que afinal não foi bem assim. De que afinal ainda te tenho. E tudo isto foram apenas uns tempos em que tivemos de nos separar. Mas não.
Não vai ser assim pois não?
E agora? Agora aprendi o faz de conta de o “está tudo bem”, do “vai-se andando, um dia de cada vez”, aprendi que o verdadeiro sofrimento não tem rosto. Ele nem sempre chora. Nem sempre ri. Ele vive escondido. Vive mergulhado dentro de nós. E há dias em que parece que ele se foi, mas ele apenas se escondeu, e quando aparece vem com mais força. O verdadeiro sofrimento, o profundo sentimento ninguém o vê, ninguém o sente, apenas nós. Apenas eu. Aqui. Sem ti.
Agora eu não sei como vai ser. Agora eu vou tentar descobrir. Como um dia tu descobriste também. Como dia após dia tu me ensinas-te.
Escrevo-te a ti, sobre ti. Porque ultimamente tem sido sempre sobre ti. Sobre a falta que me fazes.
Hoje choro por ti. Choro por mim que estou sem ti
Hoje choro sozinha. Sem o colo. Sem o mimo.
Hoje como todos os outros dias quis voltar no tempo. Quis ter ficado mais tempo. Quis ter-te dado a mão e não me ter ido embora naquele dia. No dia em que te despediste de mim, em que sentiste que era ali que nos íamos separar. Eu devia ter visto. Eu sabia-o. Mas não quis ver.
Despedi-me de ti, como o tinha feito todos os outros dias. 

Mas aquele dia não era como os outros. Aquele dia foi o último.
O último em que te tive. O último em que nos tivemos.
E tu sabia-lo!
Tomara que eu soubesse também, teria ficado toda a noite contigo, até que o momento chegasse.
Eu não estava lá. Só posso convencer-me de que foste sem sentir. A dor anestesiada com a medicação. Então veio o sono, e tu foste com ele. E eu fui contigo também.
O último beijo, o último "adoro-te", e o teu último "eu também meu amor".
A tua última força, para mim.
Serás sempre tu a minha força, porque tu vives em mim. 
Não há amor maior que o nosso, não há amor maior que o teu.
E eu sou eternamente grata por o ter recebido, por ter sido tão amada, um amor incondicional. O único que será sempre eterno. 
Amo-te mãe.

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